Os minutos se arrastam para o grande e não-nomeável fim. Aqui, do meu canto, observo o lado contrário da vida. O além-estar. Aquieto-me. Meço meus passos diante da perspectiva do finito. Insensato, busco no vagar das horas alimento para as minhas mais improváveis frustrações. Tudo acaba.
As horas se entrelaçam com o inconsciente trajeto de incertezas. Absurdo, eu, aqui, perder precioso, valoroso, rico tempo a ouvir o badalar incessante do relógio. Segundos. Uma borboleta voa na selva de flores. Minutos. As pessoas caminham próximas a mim. Horas. Mais um no mundo. Menos um no mundo. Levanto-me. Imprudente, planejo abraçar o mundo com frágeis braços. Lamento profundo de que a bateria do relógio acaba. Ponteiro parado às 18h.
Fumo um cigarro. Cigarros são tão poéticos, não acha? Um café também. Sem açúcar. Leite não. Ponteiro parado. Pessoas caminham ainda. Aqui, do meu lado, café preto e cigarro aceso. Segundos não passam. Absolutas certezas vêm com o trago. Viver é loucura. Corrida tempestuosa para o relógio parado. Efêmera. 60 segundos. Lua sangrenta no céu. Vestígios de que as estrelas são só estrelas e vulcões são infernos terrestres. O mundo dá medo. O relógio não badala. Que horas seriam? Pressa fugaz. A vida é ignóbil.
Viver é para os que aguentam ponteiros parados.
Chove. Reflexo de um mísero pedaço do céu em poças d’água. O cigarro se apaga. O café esfria. Deve ser outono. Folhas secas no chão. Ponteiro parado às 18h10. Foi sopro de vida. Vontade emergente de continuar a pulsar. Não dura. Outro trago. Nada dura… A vida é um desfiladeiro sem fim. Nunca se sabe quando é queda. O sangue pulsa. Meio tonto, acendo outro cigarro. Tudo cessa. O fim é procura.
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Os cigarros acabaram. O relógio parou. Não existe refúgio. 20h. O não-nomeável fim é próximo.
É o último trago.
Tudo é fim.

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