Somente um desabafo – Parte III

Quando me vi sozinha hoje em casa, me senti no meio de uma guerra dentro de mim. Não sabia exatamente o que sentia; dor, raiva, medo, ciúme, saudade… a única coisa que fui capaz de compreender é que não era uma boa sensação, não eram sentimentos bons.

Fiz o possível para manter a calma, mas parecia quase impossível. O conjunto de sensações e sentimentos negativos acumulados dentro de mim mal me deixava pensar. Não havia modo de entender o que se passava.

Essas guerras sempre foram parte do que sou. Só que estão cada vez mais frequentes. Não sei quanto tempo mais conseguirei aguentar com elas dessa forma. Sinto-me tão perdida, tão insegura, tão incapaz.

O meu problema é que eu não dediquei tempo suficiente para me tornar eu. Passei muito tempo vivendo na sombra de outras pessoas e esqueci-me de viver minha própria imagem. E agora me sinto assim; um ser humano desprezível e desprezado, acumulando dores e amarguras dentro de algum lugar onde se armazena os sentimentos.

Por ser um ser humano inseguro, sinto constante necessidade de ser cuidada e acalentada por alguém, mas não há homem ou mulher que possa fazer isso. Nem a mulher que me trouxe à vida nem a que me ensinou o que é uma companheira e amante. Mas… eu sinto necessidade em estar com elas e absorver tudo o que possam me dar.

A mulher que eu amo, talvez o motivo desta guerra, tem um quê de especial, poderia descrevê-la nos mínimos detalhes. Dizer o quanto gosto quando sua boca se encosta na minha ou quando me sinto alegre ao vê-la sorrir, mas também poderia dizer o quanto eu morro quando não a vejo e quando eu tenho medo que me traia. Eu a quero para mim.

Muitas vezes tentei desatar meu romance com ela apenas por medo. Medo de ser deixada, esquecida, trocada ou abandonada. Eu realmente a amo e, isso acaba me deixando perdida e vulnerável.

Talvez por não vê-la constantemente eu sinta uma necessidade ainda maior do seu toque. Eu a quero para minha vida, para ser a mulher ao meu lado. Talvez esteja me iludindo ao pensar isso, mas “nós somos feitos da matéria dos nossos sonhos”.

Ah! Como eu queria que dispuséssemos de mais tempo para nos dedicar a este amor.

Durante essa guerra entre mim e mim mesma creio que tenha tirado alguma moral, talvez até mais. Quero, a partir de agora, me dedicar ao presente. Percebi que logo posso perder o que mais considero precioso em minha vida; o amor de quem eu amo.

Hoje eu a queria ao meu lado, em combate nessa guerra que eu permiti que começasse.

 

Somente um desabafo – Parte II

Tirei o dia para pôr meus pensamentos em ordem. Sentei, parei, pensei. Pensei tanto que acabei não conseguindo dormir, mas enfim consegui. Devo dizer que foi um problema acordar. Queria saber se o mundo desabou antes ou depois disso.

Sinto tanta vontade de desabafar que peguei o primeiro caderno e caneta que vi. Mesmo que muito eu queira, não consigo contar às pessoas o que se passa (já devo ter escrito isso milhões de vezes), nem chorar em público. Mas hoje foi diferente, não aguentei e chorei.

Todos sempre pensaram que eu fosse forte, eu também pensava (olha só meu amiguinho certo), só que de um tempo para cá muita coisa mudou. Eu me sinto só, mesmo não estando. Há mais bagunça em minha mente que eu meu quarto.

Eu estou na praia, está escurecendo e ficando frio. Estou só. Vim para cá para tentar ficar melhor e não chegar a minha casa chorando, minha mãe não precisa ver isso. Já fiz sofrer demais esses dias.

Ultimamente qualquer coisa me abate, estou tão frágil. Preferiria morrer a ter que mostrar fraqueza, mas está não é uma opção para mim neste momento. Prometi que iria evitar ao máximo qualquer encontro com a morte.

Escureceu, não há mais ninguém na praia, exceto eu. Meu celular está desligado, não tenho nenhum contato com o mundo. Sou só eu, o mar e a areia.

Certamente eu queria ser como as pessoas têm certeza de que sou. Ou elas falam coisas na intenção de me afetar, ou acham que sou feita de ferro e tenho uma camada protetora que nunca me larga. Mas, infelizmente, qualquer coisa dita de forma errada me faz virar uma cachoeira de lágrimas. Tudo o que eu menos queria na vida era ser sensível. Espírito de escritora, eu suponho. Maldita arte de transformar sentimentos em palavras.

EU quero uma vida normal, mas não normalidade imposta pelos padrões estéticos de uma sociedade. Quero acordar ao lado da mulher da minha vida, brincar de casinha com meus sobrinhos, ter um pai, não precisar de um trabalho que não gosta para ter que vive…

Será que a felicidade nunca virá ao meu encontro? Sinto-me tão triste e abatida. Até a melanina me abandonou por esses tempos. Quando tudo isso irá acabar? Quero uma válvula de escape. Quero uma saída.

Já está tudo escuro, não vejo a lua nem as estrelas, coisas do mundo moderno. Isto me deia ainda mais deprimida. Queria tanto que a natureza ainda existisse, seria perfeito, eu usaria a sua beleza para me deixar melhor e tentar me curar. Quem sabe um dia… acho que por enquanto ainda dá para sonhar. Espero um dia tudo mudar.